Estamos nos aproximando do final do livro. Num livro infantil padrão, tudo agora seria pura ação e aventura, até o desfecho (normalmente feliz, o que não é bem o caso aqui, como veremos). Contudo, no Capítulo XIV - The pirate ship [O navio pirata], o que temos? A calmaria antes da tempestade: uma divagação do Capitão Hook sobre sua vida, sua infância, lembranças desse homem de caráter ambíguo - rude e sensível, ao mesmo tempo. Até mesmo o patético Smee, "the essence of commonplace" [a essência do lugar-comum] costurando em sua máquina, causa inveja àquele homem temido por todos.
Essa é uma ilustração que dificilmente será publicada, porque se trata de um evento considerado como praticamente insignificante! Uma edição de Peter Pan necessita muitas páginas, o que significa economizar no espaço para as artes. Mas, se eu a produzir, imagino uma daquelas máquinas de costura da época, de pedal mecânico e mesa de ferro em estilo art-noveau, como as primeiras Singer. Adoro especialmente essa cena, em que o Capitão Hook se desvela como homem, como personagem, e seu contraponto a atitude de Smee.
Enquanto isso, Wendy e os meninos estão amarrados no convés. Eles estão a espera do veredicto do Capitão. No exato momento em que Hook vai proceder com a punição das crianças (cuidando para que Wendy os assista andar pela prancha e cair, um a um, no mar), o tique-taque do crocodilo se faz ouvir. Contudo, Barrie nos adverte: qual crocodilo, qual nada - é Peter Pan!
Resta decidir se a ilustração do menino escondido no convés atrapalha ou não a suspense da cena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário