Paula Mastroberti

Bem-vindos a Peter Pan e Wendy: projeto. Ele está sendo desenvolvido a partir da minha tese de doutorado defendida na Faculdade de Letras na PUCRS, que basicamente estudou a obra Peter Pan e Wendy, de James Matthew Barrie, suas traduções gráficas e sua receptividade no Brasil. Entre outros objetivos, pretendo apresentar, como produto final, uma versão ilustrada desse texto literário que completou 100 anos em junho de 2011. Este blog foi criado para compartilhar os conceitos, os traços e o processo que envolve a produção dessas ilustrações e da sua versão em quadrinhos.
(Clique sobre as figuras para ampliá-las.)

domingo, 17 de junho de 2012

Caderno III - Peter pan em quadrinhos: processos (3)

O processo que prefiro para colorir em meio digital é o sistema de camadas, em RGB (sistema de cores aditivas, ou seja, cores produzidas por emissão de luz e não por pigmento, como as das tintas). Para quem não conhece, é possível criar uma arte no Photoshop como se ela fosse dividida em inúmeras folhas de papel transparentes superpostas. Cada "folha"transparente dessas contém uma parte da tintura ou de cor, sem interferir nas demais. Para quem pinta, vai ficar mais fácil de entender se eu disser que se assemelha ao processo de pintar por velaturas. Assim, as páginas em HQ de PAN não são artes "inteiras", mas um conjunto de desenhos e aplicações de tinta complexo à primeira vista, mas que tem por finalidade facilitar a correção de erros, a aplicação de efeitos e compor os blocos (o conjunto de quadrinhos) com maior facilidade e segurança, sem risco de perda dos originais. Vejam só:



Eu comecei esta página com dois desenhos, aqui já finalizados à nanquim (em papel de verdade, tá gente?)
Em seguida, esses dois desenhos finalizados e seus arquivos são reunidos e combinados em um novo arquivo, numa única "folha"ou camada, no photoshop. Vejam como fica no programa: em cima, no painel, vcs vêem a repetição da arte, mostrando o modo como ela está sendo vista à esquerda. Embaixo, dá pra ver as várias camadas (layers) da qual esta arte é feita. Essas layers poderiam ser renomeadas, mas  aqui as deixei apenas com seu número, por pura preguiça, mesmo. Os olhinhos abertos indicam quais camadas estão visíveis nesse momento, ou seja, aqui, vcs podem ver apenas o contorno em preto:


Na sequência abaixo, vcs já podem ter uma ideia de uma das áreas já coloridas, visíveis (observem que apareceu uns olhinhos a mais na lista de camadas do Photoshop. Costumo criar um grupo de camadas para cada personagem e, muitas vezes, para certas partes da cena ou efeitos de luz. Faço isso para poder corrigir alguma coisa ou voltar atrás em alguma ideia sem estragar o resto. 





Olhem só! Na figura acima, só aparecem as camadas de cor: as dos contornos deixei escondidas (os olhinhos se apagaram). Sempre separo o contorno das cores numa camada exclusiva, para preservar a linha preta deles em seu grau máximo e evitar qualquer acidente, tipo, ela se apagar sem querer no processo de colorização ou se alterar em virtude da aplicação de um efeito qualquer (eu uso muito processos de texturização, desfocagem, ruídos, alterações diversas que podem arruinar o contorno original).

Por fim, segue a arte pronta! Notem que o contorno das cortinas, originalmente preto, foi alterado para azul. A camada da Sra Darling está por cima da camada da moldura. Essa arte, eu a salvo como está, em extensão do photoshop (psd). Depois, crio uma outra versão em tiff, fechada, quer dizer, as camadas coladas, para enviar para impressão. E será somente lá que aí que ela será versada para CMYK, ou seja,  para uma grade de cores em canais que serão lidos pela impressora da gráfica e transformados em cores-tinta. Esse é o meu método, mas há outros, é claro. Este me parece adequado porque me permite a justaposicão mais orgânica de de cores e uma maior integração entre elas e o contorno preto, ao mesmo tempo em que me permite modificar a composição das partes e os efeitos criados com maior liberdade.


Há quem pense que se a arte for criada para ser impressa, ela deve ser criada em padrão de cores CMYK, para impressão. Minha experiência me diz o contrário. Eu trabalho com RGB porque não estou pintando em tinta sobre papel, mas com cores-luz sobre a tela eletrônica, e só o produto final é que será vertido para mídia matérica. É claro que é necessário um bom conhecimento de teoria da cor (conhecer sobretudo como funcionam as cores físicas e sua equivalência em cor química) e um programa que faça uma conversão eficiente de cores para impressão, como o Photoshop. Eu trabalho com sistema de percentagens, valores de frequência e numeração de tabelas: NUNCA me baseio pelo que estou enxergando na tela (embora hoje em dia a equivalência entre cor-digital e cor-tinta seja ótima!). Também costumo manter meu monitor calibrado. Tendo esses cuidados, não dá erro, eu garanto.