Paula Mastroberti

Bem-vindos a Peter Pan e Wendy: projeto. Ele está sendo desenvolvido a partir da minha tese de doutorado defendida na Faculdade de Letras na PUCRS, que basicamente estudou a obra Peter Pan e Wendy, de James Matthew Barrie, suas traduções gráficas e sua receptividade no Brasil. Entre outros objetivos, pretendo apresentar, como produto final, uma versão ilustrada desse texto literário que completou 100 anos em junho de 2011. Este blog foi criado para compartilhar os conceitos, os traços e o processo que envolve a produção dessas ilustrações e da sua versão em quadrinhos.
(Clique sobre as figuras para ampliá-las.)

domingo, 26 de junho de 2011

Estudos para Peter Pan - do lápis ao tablet




Do  meu Caderno n. 2, o estudo de cor para a cena "Cave, Peter! [Agora, Peter!]"na qual Peter Pan entra no quarto das crianças Darling.




O estudo, feito em grafite sobre papel, foi digitalizado e colorido em etapas. 

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Primeiro caderno - conclusão

Até aqui, cumpri os processos iniciais para produção das artes para a obra Peter Pan e Wendy, que completou em junho 100 anos de existência. Abri e digitalizei um caderno de esboços realizados no período de 10 meses, entre 2 de julho de 2010 e 3 de abril de 2011.
Minha próxima etapa será a de aplicar as ideias e conceitos surgidos durante essa primeira fase na configuração de ilustrações chaves para a obra, incluindo estudo de ambiências, estudos de cor e planejamento gráfico. Essa segunda fase também será veiculada aqui, assim que possível.
O segundo caderno já foi iniciado. Outras ideias estão surgindo, ideias anteriores estão sendo apuradas e até modificadas.

Também estou sendo contatada por algumas editoras.

Agradeço o interesse de todos os que acompanharam esse trabalho até aqui - espero que prossigam interessados e comentando. Ele permanecerá disponível, ao lado do próximo segmento, nesse mesmo blog.
Último capítulo, enfim. O Capítulo XVII - When Wendy grew up [Quando Wendy cresceu] chegou a fazer parte do roteiro da peça de teatro, mas jamais foi encenado. No texto literário, entretanto, ele foi acrescentado, graças-a-deus: para mim, ele é extremamente significativo e fundamental para se compreender o universo barrieano e sua mais famosa personagem - Peter Pan. Nunca consigo lê-lo sem chorar. E olha que minhas leituras desse universo (digo universo porque ele é, na verdade, plurimidiático: teatro, filmes, animações...) começaram aos seis anos, com a Disney.




Os meninos perdidos são adotados pela família Darling, tal como prometeu Wendy. Todos crescem, ficam adultos. Mas os meninos são tratados de modo diferente de Wendy por Barrie, que não enxerga no sexo masculino uma continuidade para o espírito infantil (o único modo de um menino permanecer criança seria assumir-se um "peter pan", ao que parece, tal como diagnosticou Dan Kiley). Os garotos crescem e esquecem como voar, esquecem Neverland e as aventuras vividas. Wendy, entretanto, não chega a romper com o período infantil: ela cresce, amadurece, mas algo de Peter Pan permanece nela, e será transferido para as próximas gerações. Nota-se a admiração, ou melhor, a reverência carinhosa de Barrie pela função mulher-mãe. 


Wendy cresce aos poucos: primeiro, Barrie diz que ela já não cabe mais no vestido de flores, folhas e frutas vermelhas que ela havia confeccionado na sua primeira viagem a Neverland (oh, sim, ela é a única a voltar para lá, sempre nas primaveras). Ela não esquece Peter, mas é Peter quem a vai esquecendo, como esquece as aventuras que vive, como esqueceu até mesmo o seu maior inimigo, o Capitão Hook.
A ilustração à direita, acima, deve ser anterior a que está à esquerda: nela vemos Wendy em plena puberdade, o corpo meio envergonhado ainda, com seu vestido curtinho: me tirem todas as ilustras desse capítulo, mas não me tirem esta! Wendy NUNCA foi ilustrada assim, nesse misto de sensualidade e inocência. Me inspirei direto em Pubertet, de Edvard Munch.

Ela se casa, mas não pode deixar de olhar para trás, esperando que Peter apareça e a leve para seu o mundo. Numa época em que as mulheres casavam quase sempre por obrigação, muitas vezes sem conhecer plenamente seus futuros maridos, é possível compreender o temor de Wendy pelo casamento e pelo estranho que está ao seu lado.


Então, numa noite, após colocar Jane, sua filha na cama, Peter reaparece, tão pequeno quanto surgiu para Mary Darling (que já faleceu e que tinha aquele beijo, lembram, escondido nos cantos dos lábios). Ele se assusta com uma Wendy adulta - a cena é trágica e carregada de melancolia.


Peter, sabemos, não é de manter por muito tempo os mesmos sentimentos: logo ele se distrai com Jane, com quem havia confundido a antiga amiga inicialmente. A história termina tristemente para a minha querida protagonista, pois agora é a vez de Jane partir. Para Wendy, a janela aberta para Neverland não é mais transponível. Para Peter Pan, o texto literário é, entretanto, só mais um evento em sua longa, transcendente e eterna narrativa. Depois de Jane, virá Margareth e depois - quem sabe? - eu, você.

Isso enquanto existirem no mundo crianças alegres, inocentes e sem coração e adultos que preservem, na memória e no espírito, todas as instâncias da vida em si mesmos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011


O Capítulo VI - The return home [Retorno ao lar] corresponde à última cena da peça de teatro. As crianças voltam para casa e para os braços do Sr. e da Sra. Darling, que nunca perderam as esperanças de reavê-los. Nesse capítulo, tudo acaba bem, como na encenação pantomímica. 


Ele inicia com uma descrição um tanto estranha do nosso jovem herói. Passa a impressão de que ele se torna - ou deseja tornar-se - o seu oposto: o Capitão Hook. Ele maltrata e castiga os meninos, veste-se com as roupas do seu arqui-inimigo (adaptadas por Wendy, a seu pedido) e curva o dedo indicador em forma de gancho, exibindo-o ameaçadoramente. Nunca vi ou li, em nenhuma narrativa, seja em quadrinhos, filme ou literatura, uma transfiguração igual de herói em alter-ego. Se alguém lembrar de alguma, me escreva. 

Imaginem Peter Pan, vestido com os trajes do pirata morto. Ilustrar isso é a glória. Posso imaginar até mesmo as cores, um tom de vermelho-sangue escuro do casaco roto, um branco encardido na camisa puída do Capitão, Uma criança que não pode crescer, por um instante, copia o único adulto que lhe serviu de modelo. A figura "Peter Hook" torna-se uma verdadeira síntese da situação patética do menino que não crescerá jamais.


Enquanto isso, adultos de carne-e-osso aguardam seus filhos. A janela nunca foi fechada (ao contrário da casa de Peter, em Peter Pan in Kensington Gardens). O Sr. Darling, para punir-se, foi morar na casinha de Nana; a Sra. Darling vigia constantemente, à espera. Ao invés de frases piegas, Barrie nos faz uma descrição irônica do estado de desespero da Sra. Darling. As brincadeiras da voz narrativa, ao descrever e se imiscuir nos sentimentos da mãe, não suavizam a melancólica cena, ao contrário: tornam-na ainda mais tocante. Simpatizamos com o casal, com sua dor.

O retorno das crianças não é um evento tão simples. Em qualquer narrativa mais plana, as crianças irromperiam a janela voando, vibrantes, e seriam abraçadas calorosamente pelos pais. Fim.
Mas Barrie não cai nessa cilada. Não é que isso não aconteça - acontece, tal como esbocei abaixo:    


Mas antes, Peter se antecipa, voa na frente, entra no quarto, onde a mãe e o pai aguardam. O que é que ele planeja? Simples: fechar a janela, com a ajuda de Tinker Bell. Impedir a entrada das crianças, sobretudo de Wendy: "I'm fond of  her too. We can't both have her, lady" ["Eu gosto dela também. Nós dois não podemos tê-la, senhora"]. Quer que elas pensem que o Sr. e  Sra. Darling os esqueceram. Tal como aconteceu com ele, uma vez.
Eu cheguei a esboçar essa cena. Depois, achei que poderia ficar graficamente semelhante a cena final, quando Wendy está adulta, e isso faria com que as imagens projetadas perdessem a força. 


Assim, Peter Pan aparecerá, segundo minha concepção, espiando o encontro feliz da família, através da janela.