Paula Mastroberti

Bem-vindos a Peter Pan e Wendy: projeto. Ele está sendo desenvolvido a partir da minha tese de doutorado defendida na Faculdade de Letras na PUCRS, que basicamente estudou a obra Peter Pan e Wendy, de James Matthew Barrie, suas traduções gráficas e sua receptividade no Brasil. Entre outros objetivos, pretendo apresentar, como produto final, uma versão ilustrada desse texto literário que completou 100 anos em junho de 2011. Este blog foi criado para compartilhar os conceitos, os traços e o processo que envolve a produção dessas ilustrações e da sua versão em quadrinhos.
(Clique sobre as figuras para ampliá-las.)

sábado, 27 de outubro de 2012

Notícias da Terra do Nunca



Meus seguidores aqui do blog e de fora dele têm me perguntado sobre como anda este projeto. Ele continua, ué. Pensa que é mole produzir duzentas páginas em quadrinhos? Quem me acompanha desde o início (Caderno de Desenho n. 1) sabe do trabalho (leituras, esboços, estudos e, sobretudo, desenho, desenho, desenho) envolvido.
Eu, por mim, produziria lentamente, saboreando cada página, cada quadro. Contudo, as engrenagens que movimentam o mercado editorial exigem que a gente acelere. Assim - ô gente apressada e curiosa! - noticio a vocês que a previsão para o lançamento da versão em quadrinhos de Peter Pan e Wendy é em 2013.
Para cumprir essa meta, convidei uma outra artista pra trabalhar comigo, além do roteirista Maurício Rodrigues (o Maumau) que já está integrando o projeto desde o acerto com a Editora 8Inverso.
De agora em diante, Cristiane Duarte Peter (Cris Peter) estará se responsabilizando pelas cores, enquanto eu ficarei com a parte da concepção, desenhos e traços finais.
Não estranhem: uma das coisas legais da produção em quadrinhos é essa semelhança com o cinema, sabem? Poder trabalhar em equipe.
Seis mãos darão conta de Peter Pan? Ufa, eu espero que sim.

domingo, 17 de junho de 2012

Caderno III - Peter pan em quadrinhos: processos (3)

O processo que prefiro para colorir em meio digital é o sistema de camadas, em RGB (sistema de cores aditivas, ou seja, cores produzidas por emissão de luz e não por pigmento, como as das tintas). Para quem não conhece, é possível criar uma arte no Photoshop como se ela fosse dividida em inúmeras folhas de papel transparentes superpostas. Cada "folha"transparente dessas contém uma parte da tintura ou de cor, sem interferir nas demais. Para quem pinta, vai ficar mais fácil de entender se eu disser que se assemelha ao processo de pintar por velaturas. Assim, as páginas em HQ de PAN não são artes "inteiras", mas um conjunto de desenhos e aplicações de tinta complexo à primeira vista, mas que tem por finalidade facilitar a correção de erros, a aplicação de efeitos e compor os blocos (o conjunto de quadrinhos) com maior facilidade e segurança, sem risco de perda dos originais. Vejam só:



Eu comecei esta página com dois desenhos, aqui já finalizados à nanquim (em papel de verdade, tá gente?)
Em seguida, esses dois desenhos finalizados e seus arquivos são reunidos e combinados em um novo arquivo, numa única "folha"ou camada, no photoshop. Vejam como fica no programa: em cima, no painel, vcs vêem a repetição da arte, mostrando o modo como ela está sendo vista à esquerda. Embaixo, dá pra ver as várias camadas (layers) da qual esta arte é feita. Essas layers poderiam ser renomeadas, mas  aqui as deixei apenas com seu número, por pura preguiça, mesmo. Os olhinhos abertos indicam quais camadas estão visíveis nesse momento, ou seja, aqui, vcs podem ver apenas o contorno em preto:


Na sequência abaixo, vcs já podem ter uma ideia de uma das áreas já coloridas, visíveis (observem que apareceu uns olhinhos a mais na lista de camadas do Photoshop. Costumo criar um grupo de camadas para cada personagem e, muitas vezes, para certas partes da cena ou efeitos de luz. Faço isso para poder corrigir alguma coisa ou voltar atrás em alguma ideia sem estragar o resto. 





Olhem só! Na figura acima, só aparecem as camadas de cor: as dos contornos deixei escondidas (os olhinhos se apagaram). Sempre separo o contorno das cores numa camada exclusiva, para preservar a linha preta deles em seu grau máximo e evitar qualquer acidente, tipo, ela se apagar sem querer no processo de colorização ou se alterar em virtude da aplicação de um efeito qualquer (eu uso muito processos de texturização, desfocagem, ruídos, alterações diversas que podem arruinar o contorno original).

Por fim, segue a arte pronta! Notem que o contorno das cortinas, originalmente preto, foi alterado para azul. A camada da Sra Darling está por cima da camada da moldura. Essa arte, eu a salvo como está, em extensão do photoshop (psd). Depois, crio uma outra versão em tiff, fechada, quer dizer, as camadas coladas, para enviar para impressão. E será somente lá que aí que ela será versada para CMYK, ou seja,  para uma grade de cores em canais que serão lidos pela impressora da gráfica e transformados em cores-tinta. Esse é o meu método, mas há outros, é claro. Este me parece adequado porque me permite a justaposicão mais orgânica de de cores e uma maior integração entre elas e o contorno preto, ao mesmo tempo em que me permite modificar a composição das partes e os efeitos criados com maior liberdade.


Há quem pense que se a arte for criada para ser impressa, ela deve ser criada em padrão de cores CMYK, para impressão. Minha experiência me diz o contrário. Eu trabalho com RGB porque não estou pintando em tinta sobre papel, mas com cores-luz sobre a tela eletrônica, e só o produto final é que será vertido para mídia matérica. É claro que é necessário um bom conhecimento de teoria da cor (conhecer sobretudo como funcionam as cores físicas e sua equivalência em cor química) e um programa que faça uma conversão eficiente de cores para impressão, como o Photoshop. Eu trabalho com sistema de percentagens, valores de frequência e numeração de tabelas: NUNCA me baseio pelo que estou enxergando na tela (embora hoje em dia a equivalência entre cor-digital e cor-tinta seja ótima!). Também costumo manter meu monitor calibrado. Tendo esses cuidados, não dá erro, eu garanto.




sábado, 28 de abril de 2012

Caderno III - Peter Pan em quadrinhos: processos (2)

Como prometi, seguem as etapas de finalização. Abaixo, o traçado final, em grafite, foi finalizado em nanquim:

Em seguida, ele foi digitalizado, limpo - quer dizer, tirei alguns traços remanescentes do esboço que insistiam em poluir a arte - e colorido digitalmente.

Aqui, notem que os balões já foram inseridos. Eles foram executados no próprio programa Photoshop e permanecem descolados da arte, caso seja preciso fazer alguma alteração quanto a posição, tamanho ou formato para encaixarem-se no texto. O cenário é propositadamente limpo, com poucos elementos, como podem ver. Isso se deve a dois motivos: primeiro, há muitos personagens em cena, com expressões significativas que devem ser destacadas. Segundo, as cenas iniciais se passam como se personagens estivessem atuando num palco (por isso, quadros com planos horizontais). Notem que a casinha da Nana é plana, não tem fundo, pois simula uma abertura no "cenário"de teatro iluminado, como a porta onde aparece o Sr. Darling. 


Alguns quadros exigem a aplicação de efeitos maiores, proporcionados pelo próprio programa Photoshop, como podem ver. Eu poderia ter resolvido o movimento da Sra. Darling de outra forma, mas optei por este, pela facilidade e pela precisão, além do belo efeito que cria.

Aparentemente simples, a aplicação da cor aqui está sendo, na verdade, um trabalho bastante complexo. Se por um lado, a colorização digital facilita e assegura o bom acabamento, por outro pode incorrer numa certa homogeinização da cor, brigando com o traço orgânico e analógico do desenho. Esse é um defeito comum que eu tenho observado nos processos digitais de coloração: por mais volumosa que seja a aplicação de "tinta"digital, de claros e escuros, o colorista esquece que ela deve se agregar ao desenho como se fizesse parte dele desde o princípio. Muitas vezes me deparo com tons "aerografados"que não influem em nada, parecem apenas vazios coloridos aplicados entre os contornos da arte. Ou seja: é como se a cor perdesse o valor, esfriando seu significado. Ora, cor também faz parte da linguagem, gente. Cor também significa, não está ali só pra dizer que existe.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Caderno III - Peter Pan em quadrinhos: processos (1)


Não sei como procedem outros quadrinistas. Em PAN - QUANDO WENDY CRESCEU, cada página está sendo pensada completa (ou seja, não desenho cada quadrinho em separado). Isso porque se, a princípio, as bordas começam rígidas, logo depois elas irão se soltar compondo um bloco mais orgânico, interativo às artes e as ações narrativas. Primeiro, faço um esboço mais grosseiro, com grafite preto, como acima. Depois, ele é repassado para o papel da a arte final, com uma demarcação mais precisa, usando três cores de grafite:


Aqui, as molduras desapareceram, porque o que interessa são os conteúdos a serem finalizados. Essa página está sendo produzida no momento desta postagem. Assim que eu finalizá-la, o resultado será apresentado aqui.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Caderno III - Peter Pan em quadrinhos


A partir de agora, darei início ao processo de divulgação das artes finais que farão parte da versão em quadrinhos  PAN - quando Wendy cresceu, a ser publicada pela Editora 8Inverso.

É claro que vocês não poderão vê-la completa aqui. PAN é um trabalho bastante complexo, e exigirá um bom tempo para ser concluído. O roteiro está sendo produzido por Maurício Rodrigues (Maumau), com apoio de todo o trabalho de pesquisa que desenvolvi durante o Mestrado e Doutorado em Letras na PUCRS. As artes (desenho, finalização, colorização e diagramação dos quadros) são minhas. A embalagem de tudo isso está a cargo de Martina Schreiner. Somos todos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

Essa divulgação é só para dar um gostinho aos fãs e seguidores deste blog, e pra não deixar ninguém pensando que eu desisti da ideia.
Nunca, meus amigos: não enquanto existirem crianças e adultos alegres, inocentes e sem coração.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Nana

Os estudos que seguem foram pensados tendo já em vista publicação. Para os que ainda não sabem, segue a notícia: a versão que estou produzindo será em quadrinhos, com roteiro de Maumau (Maurício Rodrigues). É uma trabalheira medonha: mais de 200 páginas!
Essa versão, que se chama PAN: quando Wendy cresceu, será publicada pela 8Inverso.

Foi para ela que fiz esses estudos de Nana:


A ideia é trabalhar os personagens como se fossem "atores" representando num palco. Assim, a babá dos Darling é uma "atriz"maquiada e fantasiada como uma Terranova. Não foi nada fácil chegar nessa concepção: a minha tendência era preferir Nana tal como Barrie desejou. Mas se a gente pensar que Peter Pan praticamente nasceu no teatro (se não considerarmos Peter Pan in Kensington Gardens), a concepção faz sentido.
No teatro, um ator, vestido de cachorro, anda de quatro. Mas eu optei por deixá-la em pé, me inspirando nas ilustrações de Maurice Sendak para The Little Bear.

O estudo acima é em roupa de passeio, quando ela leva as crianças à escola.
O segundo, abaixo, é um estudo de pose canina (ela é uma humana fingindo que é uma cadela que finge ser humana, certo?).



domingo, 1 de janeiro de 2012

Neverland


Neverland não é exatamente o paraíso onírico que está figurado aqui. Mas no momento em que os Darling visualizam a ilha pela primeira vez, ela deve ter-lhes aparecido assim: romântica, alegre, colorida, um espaço que promete aventuras fantásticas.

Feita de nuvens e estrelas, ela se projeta a partir da imaginação das crianças a um céu-mar infinito. Mas eu ainda não fiquei satisfeita com essa representação. Estou em busca de algo mais psicodélico, menos cartesiano. Menos verde (natural) e mais iridescente (sobrenatural).