"The more quickly this horror is disposed of the better." ["Quanto mais rápido nos livrarmos desse horror, melhor"]. Assim começa o Capítulo XIII - Do you believe in fairies? [Você acredita em fadas?]. As crianças pensam que o tambor tinha sido tocado pelos índios, habitual comemoração da sua vitória sobre os piratas. Ao saírem do Esconderijo Subterrâneo, são acolhidas e jogadas de pirata em pirata, e enfiadas, uma a uma, na casinha de Wendy.
Apenas Wendy é tratada com delicadeza; afinal, ela é a "mãe". Até mesmo um pirata sabe que deve respeitar sua posição. É o próprio Capitão Hook quem lhe estende gentilmente a mão, como um cavalheiro bem educado.
Vejam que eu modifiquei levemente a cabeleira do capitão. Agora seus cabelos estão presos atrás da nuca e os cachos caem para frente. Sem chapéu, achei melhor assim. Com os cabelos simplesmente soltos, ele correria o risco de se assemelhar a um desses metaleiros geração 70. O topete dá um ar mais sofisticado e não altera muito o penteado de época.
Enquanto a casinha cheia de crianças lá se vai, carregada pelos piratas, Peter Pan dorme em meio a uma grande risada (eu disse risada, não sorriso), que permanece suspensa na boca do menino. Essa risada muda não será fácil de executar; pensem bem, um rosto que dorme e ri ao mesmo tempo. Exigirá uma certa distorção nas feições - o resultado pode ficar catastrófico. Esse desenho aí não me deixou satisfeita: ele parece estar acordado, não dormindo. Viram a dificuldade?
E então o Capitão Hook penetra por um dos ocos das árvores que levam ao esconderijo. Ele usa a abertura de Slightly (que andou crescendo sem que Peter Pan soubesse). Seu rosto, suado (Barrie usa a expressão dripping like a candle [pingando como uma vela], remetendo à descrição dos cachos do cabelo de Hook) aparece em grandes proporções, tomando conta do espaço do Esconderijo.
No remédio que Wendy deixou para Peter tomar, ele coloca algumas gotas de veneno, que Tinker Bell, numa atitude apaixonada, irá beber em seu lugar.
Você acredita em fadas? Em Peter Pan, the boy who wouldn't grow up, a peça de teatro escrita por Barrie e que deu origem ao livro, se você acreditasse, teria que bater palmas, e assim ressuscitaria a fada. No livro, a interação atores-platéia é substituída pela seguinte passagem:
"There were no children there, and it was night-time; but he adressed all who might be dreaming of the Neverland, and who were therefore nearer to him than you think; boys and girls in their nighties, and naked papooses in their baskets hung for trees.
'Do you believe?', he cried.
[...]
'If you believe', he shouted to them, 'clap your hands; don't let Tink die'.
Many clapped.
Some didn't.
A few little beasts hissed."
[Não havia criança alguma lá, e era noite; mas ele dirigiu-se a todos que pudessem estar sonhando com Neverland, aqueles que, portanto, estariam mais perto dele do que você possa pensar; garotos e garotas de pijamas, indiozinhos em seus cestos pendurados em árvores.
- Vocês acreditam? - ele gritou.
{...}
- Se vocês acreditam - ele gritou a elas - batam palmas; não deixem Tink morrer.
Muitos bateram palmas.
Alguns não.
Uns poucos bestinhas assobiaram.]
A maioria dos ilustradores preferem figurar Tinker Bell em seu ato de heroísmo irrefletido. Eu fiz um rascunho para esse momento, mas ainda estou pensando se não ficaria legal desenhá-la prestes a apagar-se para sempre, junto a um Peter Pan desesperado.