Paula Mastroberti

Bem-vindos a Peter Pan e Wendy: projeto. Ele está sendo desenvolvido a partir da minha tese de doutorado defendida na Faculdade de Letras na PUCRS, que basicamente estudou a obra Peter Pan e Wendy, de James Matthew Barrie, suas traduções gráficas e sua receptividade no Brasil. Entre outros objetivos, pretendo apresentar, como produto final, uma versão ilustrada desse texto literário que completou 100 anos em junho de 2011. Este blog foi criado para compartilhar os conceitos, os traços e o processo que envolve a produção dessas ilustrações e da sua versão em quadrinhos.
(Clique sobre as figuras para ampliá-las.)

sexta-feira, 3 de junho de 2011


O Capítulo VI - The return home [Retorno ao lar] corresponde à última cena da peça de teatro. As crianças voltam para casa e para os braços do Sr. e da Sra. Darling, que nunca perderam as esperanças de reavê-los. Nesse capítulo, tudo acaba bem, como na encenação pantomímica. 


Ele inicia com uma descrição um tanto estranha do nosso jovem herói. Passa a impressão de que ele se torna - ou deseja tornar-se - o seu oposto: o Capitão Hook. Ele maltrata e castiga os meninos, veste-se com as roupas do seu arqui-inimigo (adaptadas por Wendy, a seu pedido) e curva o dedo indicador em forma de gancho, exibindo-o ameaçadoramente. Nunca vi ou li, em nenhuma narrativa, seja em quadrinhos, filme ou literatura, uma transfiguração igual de herói em alter-ego. Se alguém lembrar de alguma, me escreva. 

Imaginem Peter Pan, vestido com os trajes do pirata morto. Ilustrar isso é a glória. Posso imaginar até mesmo as cores, um tom de vermelho-sangue escuro do casaco roto, um branco encardido na camisa puída do Capitão, Uma criança que não pode crescer, por um instante, copia o único adulto que lhe serviu de modelo. A figura "Peter Hook" torna-se uma verdadeira síntese da situação patética do menino que não crescerá jamais.


Enquanto isso, adultos de carne-e-osso aguardam seus filhos. A janela nunca foi fechada (ao contrário da casa de Peter, em Peter Pan in Kensington Gardens). O Sr. Darling, para punir-se, foi morar na casinha de Nana; a Sra. Darling vigia constantemente, à espera. Ao invés de frases piegas, Barrie nos faz uma descrição irônica do estado de desespero da Sra. Darling. As brincadeiras da voz narrativa, ao descrever e se imiscuir nos sentimentos da mãe, não suavizam a melancólica cena, ao contrário: tornam-na ainda mais tocante. Simpatizamos com o casal, com sua dor.

O retorno das crianças não é um evento tão simples. Em qualquer narrativa mais plana, as crianças irromperiam a janela voando, vibrantes, e seriam abraçadas calorosamente pelos pais. Fim.
Mas Barrie não cai nessa cilada. Não é que isso não aconteça - acontece, tal como esbocei abaixo:    


Mas antes, Peter se antecipa, voa na frente, entra no quarto, onde a mãe e o pai aguardam. O que é que ele planeja? Simples: fechar a janela, com a ajuda de Tinker Bell. Impedir a entrada das crianças, sobretudo de Wendy: "I'm fond of  her too. We can't both have her, lady" ["Eu gosto dela também. Nós dois não podemos tê-la, senhora"]. Quer que elas pensem que o Sr. e  Sra. Darling os esqueceram. Tal como aconteceu com ele, uma vez.
Eu cheguei a esboçar essa cena. Depois, achei que poderia ficar graficamente semelhante a cena final, quando Wendy está adulta, e isso faria com que as imagens projetadas perdessem a força. 


Assim, Peter Pan aparecerá, segundo minha concepção, espiando o encontro feliz da família, através da janela.



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