Paula Mastroberti

Bem-vindos a Peter Pan e Wendy: projeto. Ele está sendo desenvolvido a partir da minha tese de doutorado defendida na Faculdade de Letras na PUCRS, que basicamente estudou a obra Peter Pan e Wendy, de James Matthew Barrie, suas traduções gráficas e sua receptividade no Brasil. Entre outros objetivos, pretendo apresentar, como produto final, uma versão ilustrada desse texto literário que completou 100 anos em junho de 2011. Este blog foi criado para compartilhar os conceitos, os traços e o processo que envolve a produção dessas ilustrações e da sua versão em quadrinhos.
(Clique sobre as figuras para ampliá-las.)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Último capítulo, enfim. O Capítulo XVII - When Wendy grew up [Quando Wendy cresceu] chegou a fazer parte do roteiro da peça de teatro, mas jamais foi encenado. No texto literário, entretanto, ele foi acrescentado, graças-a-deus: para mim, ele é extremamente significativo e fundamental para se compreender o universo barrieano e sua mais famosa personagem - Peter Pan. Nunca consigo lê-lo sem chorar. E olha que minhas leituras desse universo (digo universo porque ele é, na verdade, plurimidiático: teatro, filmes, animações...) começaram aos seis anos, com a Disney.




Os meninos perdidos são adotados pela família Darling, tal como prometeu Wendy. Todos crescem, ficam adultos. Mas os meninos são tratados de modo diferente de Wendy por Barrie, que não enxerga no sexo masculino uma continuidade para o espírito infantil (o único modo de um menino permanecer criança seria assumir-se um "peter pan", ao que parece, tal como diagnosticou Dan Kiley). Os garotos crescem e esquecem como voar, esquecem Neverland e as aventuras vividas. Wendy, entretanto, não chega a romper com o período infantil: ela cresce, amadurece, mas algo de Peter Pan permanece nela, e será transferido para as próximas gerações. Nota-se a admiração, ou melhor, a reverência carinhosa de Barrie pela função mulher-mãe. 


Wendy cresce aos poucos: primeiro, Barrie diz que ela já não cabe mais no vestido de flores, folhas e frutas vermelhas que ela havia confeccionado na sua primeira viagem a Neverland (oh, sim, ela é a única a voltar para lá, sempre nas primaveras). Ela não esquece Peter, mas é Peter quem a vai esquecendo, como esquece as aventuras que vive, como esqueceu até mesmo o seu maior inimigo, o Capitão Hook.
A ilustração à direita, acima, deve ser anterior a que está à esquerda: nela vemos Wendy em plena puberdade, o corpo meio envergonhado ainda, com seu vestido curtinho: me tirem todas as ilustras desse capítulo, mas não me tirem esta! Wendy NUNCA foi ilustrada assim, nesse misto de sensualidade e inocência. Me inspirei direto em Pubertet, de Edvard Munch.

Ela se casa, mas não pode deixar de olhar para trás, esperando que Peter apareça e a leve para seu o mundo. Numa época em que as mulheres casavam quase sempre por obrigação, muitas vezes sem conhecer plenamente seus futuros maridos, é possível compreender o temor de Wendy pelo casamento e pelo estranho que está ao seu lado.


Então, numa noite, após colocar Jane, sua filha na cama, Peter reaparece, tão pequeno quanto surgiu para Mary Darling (que já faleceu e que tinha aquele beijo, lembram, escondido nos cantos dos lábios). Ele se assusta com uma Wendy adulta - a cena é trágica e carregada de melancolia.


Peter, sabemos, não é de manter por muito tempo os mesmos sentimentos: logo ele se distrai com Jane, com quem havia confundido a antiga amiga inicialmente. A história termina tristemente para a minha querida protagonista, pois agora é a vez de Jane partir. Para Wendy, a janela aberta para Neverland não é mais transponível. Para Peter Pan, o texto literário é, entretanto, só mais um evento em sua longa, transcendente e eterna narrativa. Depois de Jane, virá Margareth e depois - quem sabe? - eu, você.

Isso enquanto existirem no mundo crianças alegres, inocentes e sem coração e adultos que preservem, na memória e no espírito, todas as instâncias da vida em si mesmos.

3 comentários:

Elektra disse...

Mana Paula, estou emocionada... Peter Pan e Wendy merecem esse teu olhar curioso e terno de fã. Inventassem a máquina do tempo e Neverland seria o colo de Barrie, onde eu depositaria o "teu" livro dele: um filho voltando à casa, crescido, mas ainda repleto de infância.
Não vejo a hora de ter esse livro em mãos!

Paula Mastroberti disse...

Vamos torcer para que alguma editora diga amém, querida! Obrigada!!!

MT disse...

Genial!